Cuidadores

O papel da família

30 de setembro - 20h:33
Na hora de enfrentar o câncer, a formação do tripé paciente/profissionais de saúde/família é essencial. Informe-se, busque orientação e saiba a melhor forma de dar e receber apoio
Muito já se falou sobre a importância da participação da família no tratamento da paciente, mas é essencial saber como participar, como acompanhar todas as etapas da doença, como cuidar e a melhor maneira de se informar sobre o assunto.
Para começar, é muito importante que o cuidador não confunda cuidar da paciente com assumir suas tarefas. Em muitos casos, isso não é necessário e pode até prejudicar. Lembre-se de que a paciente precisa participar ativamente do processo de tratamento. Incentivar, estimular, orientar, supervisionar e acompanhar pode ser muito mais produtivo.
Conhecer a doença, os tratamentos e suas consequências físicas e emocionais pode ajudar muito na hora de dar esse suporte. Antes de qualquer coisa, pesquise muito sobre a doença, visite sites na internet, se possível acompanhe a paciente ao médico, converse com os especialistas e os psicólogos do hospital, participe de grupos de apoio e ofereça todo o suporte emocional necessário.

Na medida certa

Todo cuidado é pouco para não transparecer piedade. “Orientamos o cuidador a não sentir pena da paciente, pois ela não gosta de estar naquela condição”, explica Bianca Beraldi Xavier, assistente social e psico-oncologista que atende na Associação Feminina de Combate ao Câncer (Afecc), do Hospital Santa Rita, e na Clínica Capixaba de Oncologia, em Vitória (ES). “Procure incentivá-la a continuar seus hábitos, desde que sejam saudáveis, como a leitura, os esportes, o lazer, e também a prosseguir com as atividades da casa, observando, porém, suas limitações”, orienta a profissional.
Mas como definir quem será o cuidador “oficial” da paciente? É um desafio pessoal, mas vale a pena. “No geral, a eleição ocorre de modo natural, pois na dinâmica de funcionamento familiar os ‘lugares’ de cuidador, na maior parte das vezes, já estão ‘eleitos’”, explica Dirce Maria Navas Perissinotti, psicóloga coordenadora da campanha Viva sem Dor, do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho. “O funcionamento do grupo familiar ocorre de tal maneira que o elemento responsável pelo cuidado geral – provedor financeiro ou cuidador afetivo – já está presente e, no momento da crise decorrente da má notícia sobre o câncer de mama, essa condição se confirma”, acrescenta. Bianca Beraldi Xavier concorda: “Quem ama cuida, e cada família define naturalmente seus cuidadores”. E alerta: “Não é fácil esse papel, pois normalmente os membros dessa família estão no mercado de trabalho, necessitam garantir sua sobrevivência, mas sempre encontram alternativas para o ato de cuidar”.

Cuidados com quem cuida

A tarefa de cuidar é grande. Exige esforço físico e emocional, e é muito importante que o cuidador não se esqueça também de se cuidar. O estresse da doença toma conta de todos, e é essencial manter a calma para poder ajudar a paciente. “O câncer é uma doença coletiva, atinge o paciente e suas relações sociais”, diz Bianca. Para Dirce Perissinotti, os membros da família que se responsabilizam pelos cuidados também necessitam de apoio. “A participação em grupos de apoio aos doentes e/ou cuidadores é interessante, pois propicia melhor informação sobre o andamento da situação da doença e maior desmistificação do momento de crise pessoal e familiar”, sugere.
O cuidador não deve nunca se deixar de lado. É muito normal aparecerem sentimentos como raiva, culpa, frustração e até mesmo certa sensação de impotência, mas é fundamental lembrar que, se ele está fazendo todo o possível para ajudar a paciente, está sendo de grande utilidade. E, para continuar esse trabalho, é preciso estar com a saúde física e emocional em dia. Se preciso, peça ajuda a outros familiares e procure os grupos de apoio do hospital.

Um problema de todos

O câncer de mama afeta não só a paciente, mas todos à sua volta. É essencial que a família se estruture, pois o tratamento é longo e pode ter consequências em vários aspectos.
Normalmente, a primeira mudança é a inversão de papéis – a mulher que sempre cuidou da casa, dos filhos e do marido passa agora a ser cuidada. Há ainda o impacto financeiro, porque muitas dessas mulheres atuam no mercado informal e precisarão ficar ausentes por algum período. “A família, num primeiro momento, deve pensar em unir forças para superar os momentos difíceis”, explica Bianca. “Deve buscar informações com profissionais de saúde sobre recursos aos quais têm direitos, seja na Previdência, assistência social e em programas de entidades que trabalham com câncer, para que se dê um acompanhamento no sentido de viabilizar ações que visem a qualidade de vida dos pacientes e, consequentemente, de seus familiares” orienta a psico-oncologista.
Com objetivos comuns de combater a doença, enfrentar o tratamento e garantir qualidade de vida, juntos, paciente, família e profissionais de saúde podem vencer a luta contra o câncer de mama.
Texto: Cássia Fragata